MULATA NÃO É ELOGIO
- Colaboradora: Mariana Nascimento | Arte: Mulata
- 15 de abr. de 2016
- 2 min de leitura

A história do Brasil é pautada em cerca de 400 anos numa escravidão que desumanizou o povo negro, humilhando-o, segregando as famílias, e que provocou o início de um grande genocídio que é perpetuado até hoje, e também suscitou o abuso sexual de várias mulheres negras. As escravas quando estupradas pelos senhores de engenho, tinham a mera função de promover-lhes o prazer, em detrimento da dignidade racial e de gênero. Os frutos gerados desses abusos provocaram a disseminação do termo mulato, que a definição no dicionário diz:
“Mulato.” (mu.la.to) Def.: adj. s.m.1. Que descende de brancos e negros. 2. Mestiço de negro, índio ou branco, de pele morena clara ou escura; pardo ou fulo. s.m. 3. Pessoa mulata.
Porém, a expressão está ligada ao hibridismo racial de forma pejorativa, pois, historicamente o vocábulo vem de mula – um animal fruto do cruzamento de um cavalo e um jumento, fazendo a alusão à junção de uma raça superior com uma inferior, respectivamente.
Um dos mecanismos utilizados para a pulverização da expressão ainda nos dias de hoje é a ciência. A biologia, no campo da genética, utiliza o termo para indicar quando há um número de genes dominantes em relação à herança quantitativa, no caso do fruto da miscigenação do negro com o branco. Isso de certa forma leva a zoomorfização onírica de determinadas pessoas que produzem uma quantidade de melanina maior que as outras. É inadmissível que os cientistas ainda utilizem esse termo.
Na literatura, o estereótipo de inferiorização racial vem retratado de forma histriônica no movimento naturalista/realista. Apesar de o realismo brasileiro fazer uma crítica social às condições dadas ao povo negro após a abolição, quando os moldes da obra interseccionam-se com o naturalismo há uma animalização dos personagens por conta da visão cientificista que permeia o movimento entre os séculos XIX e XX , um exemplo explícito disso é o livro de Aluísio Azevedo, O Cortiço.
A cristalização da expressão no discurso popular na conotação de elogio precisa ser desconstruída, assim como o significado da denominação nefanda do termo negro. A questão do colorismo está diretamente ligada a isso, quando você escuta frases do tipo: “você é uma mulata muito bonita” ,“ você é uma morena linda” ou “que parda linda você é”, principalmente quando o tom da sua pele não é tão escuro comparado aos outros, essas falas vem indiretamente com o objetivo de negar a sua negritude, a sua ancestralidade. Infelizmente quando temas como esse são debatidos na nossa sociedade (hipocritamente) politicamente correta, que tem mais de 50% da sua população negra, toda essa problemática é encarada como prosetilismo, querela, mimimi, caracterizando o racismo institucional.
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