JENNY ÉQUIX
- Phran Noctuam
- 2 de fev. de 2016
- 3 min de leitura

Jenny Équix, 25 anos, moradora da zona norte de São Paulo, é filha da cultura. Hip Hop e tem uma interessante história para contar para as negras do Afronta.
Como foi sua infância, como era sua família naquela época?
Em meados de 90 meu pai fundou uma rádio pirata na Zona Norte - Vila Nova Cachoeirinha, Distrito da Brasilândia. Na época em que eu estava com cinco anos de idade eu pude acompanhar a fusão entre Vinil e K7. O início da vinda do Cd para o Brasil. Comecei a ter uma influência muita forte pela Cultura Hip-Hop através dos discos, revistas e artistas da periferia que estavam em um momento de ascensão naquela época.
Interessava-me pelo Rap, tinha uma curiosidade pelo Graffiti e fazia alguns desenhos de observação. A rádio foi fechada por decisão judicial em 1996, meu pai respondeu o processo e depois de mais de 10 anos ele conseguiu retirar os equipamentos. Nos anos 2000 eu comecei a rascunhar alguns versos,mas não estava satisfeita com o que escrevia.
Você teve contato com a arte desde cedo e como isso influenciou a
escolha pela faculdade?
Concluí o Ensino Médio em 2007 e estava em dúvida em relação ao curso, então optei por ficar alguns anos fazendo algumas atividades até me decidir, em 2009 fiz Curso de Assistente de Produção Cultural e em 2010 comecei a fazer Faculdade de Publicidade mudei de Faculdade em 2013 por divergências políticas. Fiquei desapontada em vivenciar situações de desrespeito que ocorrem na sala de aula e abusos frequentes que as Instituições de Ensino fazem. Considero os ambientes estudantis retrógrados e engessados e multiplicadores de preconceitos.
Quando foi que começou a fazer projetos culturais?
Em 2013 ingressei no Centro Cultural da Juventude – CCJ após ter tentado há mais de 5 vezes. Formei-me em Gestão Cultural e continuei a produzir projetos culturais, fornecer assessoria para empresas, artistas e pessoas físicas com interesse em viabilizar propostas, inclusive atividades para jovens.
Quais projetos sócioculturais se envolveu até agora?
Coordenei o Projeto de Graffiti Graffizcultura com os artistas Esbomgaroto e Jamal (2015). Já atuei em Projetos de dança, hip-hop, orquestras juvenis, basquete, entre outros... Participei do Cd do Grupo RDC do Jd Eliza Maria Zona Norte.
Participei do Projeto Tv Quebrada em 2011.
Qual sua relação com o feminismo?
Já fui integrante de coletivo feminista. E descobri que o feminismo é algo que deve ser disseminado não somente nos ambientes com pessoas que possuem a mesma formação e referência e sim para pessoas que não o conhecem e que possuem visão deturpada e fazem piada com ele. Ele deve ser introduzido no dia-a-dia e não ser elitizado.
Como foi e é para você uma Mulher Negra estar envolvida nesse circuito
cultural?
Por me identificar com a Cultura Urbana já sofri inúmeros preconceitos. Em relação a identidade visual e o machismo sempre esteve e está presente nos ambientes em que frequento,pois em sua totalidade é dominada pelo público masculino, alguns os enxergam como um sexo frágil,e outros como um objeto sexual.
Tenho muitos amigos homens e por este fato eu sei como é a forma de pensar masculina e conquistei o respeito de muitos, foi através de muita luta. Muitos já me disseram que aprenderam bastante sobre feminismo comigo repensaram sua forma de pensar e compreenderam que não é competição e sim luta por igualdade.
As pessoas te vêem diferente ou falam pra você positivamente ou
negativamente com essa sua militância?
Eu lido com pessoas de diversos posicionamentos políticos e ideológicos. No decorrer da minha militância passei por diversos estágios e quando você percebe que a estrutura que você esta inserida foi calculada e planejada para sua destruição física, mental e psicológica é algo muito frustrante. Você começa a olhar tudo de maneira diferente isso, integra relações familiares, pessoais, profissionais e tudo com o que se relaciona.

O que você deixa de mensagem para as Mulheres Negras que vão ler sua
entrevista?
Minha vida não começou quando nasci e sim quando eu comecei a me amar e me aceitar como sou, na infância queremos ser iguais para sermos aceitos em certos grupos nos ensinam padrões estéticos e vamos vivendo essa mentira até que a gente descobre que ninguém é igual, e que ser diferente não é errado e nem prejudicial ,é algo maravilhoso e isso que torna as pessoas especiais.
A autoestima é a base, precisamos nos espelhar em pessoas que tenham as mesmas diretrizes que nós. Tem muitas pessoas que criticam e acham que são questionamentos sem sentido, que é uma mania de se vitimizar e que somos todos humanos e iguais e que isso basta.
Sou mulher negra, periférica, feminista e militante e por onde passo procuro levar minhas contribuições que são resultados da minha vivência. Esta é uma música minha:
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