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BEA ARAUJO

  • Phran Noctuam
  • 20 de set. de 2015
  • 3 min de leitura


Beatriz Rodrigues de Araujo, 21 anos, conhecida como Bea Araujo, mora no Capão Redondo, periféria de São Paulo, cursa direito, é analista jurídica, graffiteira, pixadora, poeta, articuladora cultura e militante do movimento negro e feminista.


Conta um pouco da sua história de vida?


Negra e periférica filha única de mãe solteira, acho que isso já diz muito.



Fala sobre seu projeto social e cultural?


Sou idealizadora do Coletivo Independente e Periférico Livros ao Vento, que tem por objetivo a inclusão sociocultural da periferia através da leitura. Atuamos na zona sul de São Paulo, com arrecadação e distribuição deste acervo para criação de bibliotecas comunitárias e ocupações em espaços públicos, como por exemplos as chamadas Gelatécas, que busca familiarizar a comunidade com livre acesso aos livros.


Quantas gelatécas tem instaladas hoje?


Ao total são 4 Gelatécas já instaladas e com rotatividade de livros, sendo respectivamente uma no Bowl do Arariba, na praça do Campo Limpo, no CEU Cantos do Amanhecer e uma na praça do feirão no Jd. São Luiz. Acredito que além das gelatécas é importante informar que através do projeto estamos implementando também uma biblioteca comunitária no Espaço Comunidade.


Gelatécas por dentro


Quantas pretendem instalar?


Não temos um numero exato de Gelatécas. Não iremos criar um limite, estamos aproveitando o fomento do VAI 2015 para colocarmos a maior quantidade possível. Como estamos ganhando todas as geladeiras utilizadas até o momento, o numero de 5 geladeiras informado no orçamento será ultrapassado. Além das 4 já instaladas temos outras 3 na fila de espera.


Como é a atuação das mulheres no coletivo?


Somos o total de 9 componentes no Coletivo, sendo 6 mulheres. Todas nós temos uma atuação muito equânime dentro do coletivo, todas minas de muita personalidade, muito emponderadas também, aprendo muito no convívio com elas, pois a cada atividade há uma troca de vivencia muito grande. Todos estamos a frente em qualquer situação, pois acreditamos na igualdade entre nós e os rapazes que atuam conosco.



Tem projetos artísticos? Quais linguagens?


Sim, o graffiti, a pixação, a escrita. Sempre gostei muito de escrever, de estruturar meus pensamentos em textos, e poesias. Certamente essa é a minha principal arte, a escrita. Porém conhecer o grafite, quebrou duas grandes barreiras, a primeira de liberdade de expressão e posteriormente a isso dar cunho de representatividade à mim e a outras mulheres negras e periféricas através da manifestação artística, do desenho principalmente nessas cenas marginalizadas e masculinizadas, assim como o cenário musical do rap por exemplo.


Gelatécas por fora


Como que você conheceu o graffiti? Qual foi seu primeiro contato com essas linguagens artísticas?


Primeiramente eu conheci a pixação, conhecia alguns meninos que estavam sempre na rua, na saga de pixar, e eu me perguntava por que não haviam mulheres no movimento e passei a me refletir também de como aquele ato poderia ser uma ferramenta muito boa para a minha militância.


Posteriormente a isso, um pouco influenciada também pelo gosto de pelo desenho, iniciei as minhas atividades dentro do Coletivo, inicialmente nós utilizávamos caixotes de feiras para ocupações nas ruas no lugar das Gelatécas, e esses caixotes eram decorados, com tinta spray, stencil e colagens, neste momento eu descobri o modo de utilizar as latas para criar ilustrações, o graffiti.




Pratica o feminismo em algum ambiente? Como é visto pelos

demais? Sofreu preconceitos? Se sim, com foi?


Acredito que o feminismo precisa ser praticado em qualquer ambiente, estamos

vulneráveis ao machismo em qualquer meio social, logo devemos por conscientização nos posicionarmos em qualquer um que seja.


Nunca tive problemas no trabalho em relação ao machismo, faço parte de uma equipe jurídica de 5 pessoas nas quais 4 são mulheres, muito capacitadas no que fazem, e nunca houve subjugação do posso potencial por sermos mulheres, isso me ajudou muito a reconhecer a importância do meu papel no mercado de trabalho.


Em casa então esse cenário é ainda mais concreto, como disse anteriormente sou filha única de mãe solteira, e involuntariamente minha mãe tem um papel importantíssimo na minha própria desconstrução, pois ela sempre foi representatividade de muita garra, muito independência, muita liberdade de se colocar em diversas situações.


A forma de vida que levamos, tanto na independência profissional quanto na forma de administrar o lar, SOZINHAS, acredito que tenha sido o primeiro contato com a militância.


É claro que mesmo diante desses aspectos positivos, sempre há uma situação, uma ocasião, mesmo que velada de opressão, e desconstruir isso faz parte da militância.




Qual mensagem você deixa para as mulheres que estão começando nessas linguagens artísticas e se emponderando?


Antes de qualquer outra coisa que essas minas são a minha representatividade, pois ver as minas ocupando a cena da pichação, do grafite, utilizando isso de ferramenta para militância é combustível, pois são universos completamente masculinizados e elas estão cada vez mais ganhando influentes, e se for necessário ocupar para termos espaço para exercer nosso papel de fala que essa ocupação seja com muita cor e subversividade.


“Não Subjuga as minas, pois o cerco ta formado” – filhadarua.


 
 
 

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