IANAH MAIA
- Phran Noctuam
- 8 de jun. de 2015
- 4 min de leitura

Foto por Carol de Andrade: https://flickr.com/photos/caroldeandrade/
Ianah Maia de Mello, 26 anos, é nordestina de raiz, nascida em Recife, mas que já morou em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Graduada em Artes Visuais (Cinema de Animação) pelas Faculdades Integradas Barros Melo, é artista autônoma com uma história linda para compartilhar.
Conta um pouco da sua história de vida, onde nasceu, com quem viveu?
Nasci em Recife, mas ainda pequena morei em Belo Horizonte e depois em Búzios (RJ), depois voltei pra Recife. Fui criada junto com meu irmão pelas mulheres da minha família (mãe, avó materna, tia-avó e bisavó). Graças a todas elas, tive boas oportunidades na vida (embora isso não signifique que minha vida tenha sido fácil). Minhas raízes são totalmente brasileiras. Tenho descendência afro, indígena e branca. Todas nordestinas.
Qual é a maior influência dessas mulheres na sua personalidade artística?
Acho que teve influencia total. Principalmente por serem mulheres guerreiras, cada uma dentro do seu contexto. Elas são seres humanos fantásticos, e dentro da minha realidade, eram essas mulheres que faziam o mundo girar. Hoje em dia meu trabalho ainda gira em torno da temática feminina. Persisto nessa temática por que ainda acho ela necessária, mas ela tem se transformado aos poucos. Com o tempo vi que não eram mais somente mulheres cisgêneras que eu sentia que precisava retratar. Mas tudo o que permeia o imenso espectro que é a identidade de gênero.
Como foi sua vida na faculdade? Suas dificuldades? E suas conquistas?
Foi tranquila. A dificuldade estava mesmo na carreira que escolhi estudar, por que é uma área ainda pouco estudada no Brasil. Por saber disso também, procurei ao máximo aproveitar as oportunidades que encontrava no caminho, e aprender principalmente pela prática. Acho que consegui um resultado bom, no final, e saí de lá muito certa de que ainda tinha muito o que aprender.
Trabalha? Onde?
Sim, sou autônoma. Atualmente divido com outros artistas um espaço de co-working no centro do Recife (Edfício Pernambuco).
E cada artista faz trabalhos independentes? Se for em conjunto pode falar um pouco do que fazem?
Sim e não. Cada um aqui tem projetos próprios, espaço de trabalho próprios, mas ao mesmo tempo estamos em constante troca. Quando aparece, é super possível (e desejado) que trabalhemos juntos. E todo mês organizamos juntos um evento no andar, que inclui shows, performances, bar, exposições, venda de produtos artísticos, etc. Tudo organizado e realizado em conjunto pelos artistas e produtores que dividem o espaço do andar. É um lugar muito especial, aqui.
Tem projetos sociais?
Ainda não tenho nenhum em prática. Só participações eventuais em projetos alheios e manifestos populares. Atualmente estou trabalhando em uma animação para a ONG Centro Sabiá, dentro do projeto Trabalho, Renda e Sustentabilidade no campo.
Tem projetos artísticos?
Sim, um de postar diariamente no facebook um desenho aleatório, no qual eu sempre busco tratar de questões que considero relevante (como gênero, feminismo, movimentos sociais, etc). E procuro sempre retratar a beleza natural da mulher negra. Atualmente estou começando a levar também esse tipo de arte e discussão para as ruas, através do graffiti.
Quando começou a ter sensibilidade pra arte?
Não sei te dizer uma data específica. Lembro que quando era criança, tinha uma relação muito forte com meus desenhos. Como eu era muito tímida, essa era uma forma de expressar meus sentimentos, de colocar pra fora, mas sem que ninguém mais soubesse exatamente do que se tratava. Acho que foi a forma mais segura que encontrei de criar um diário haha. Mas a expressividade artística é uma coisa que está em constante desenvolvimento, até por que ela depende muito da fluidez e do movimento da vida. Hoje em dia já não se trata apenas de expressão individual.
Como foi a escolha da linguagem?
O desenho você diz? Não sei. Sempre gostei de desenhar. Nunca quis parar. E como é algo que vem me acompanhado a vida inteira, se tornou minha linguagem principal. Mas hoje estou experimentando outras formas também. Ando experimentando gravura, canto, fotografia, graffiti....
Como tem sido essa transição para o graffiti?
Não é uma transição, está mais para uma adição. Acho que qualquer técnica ou linguagem que eu aprender na vida vai sempre se somar ao que eu ja sabia antes. O graffiti aconteceu meio que por acaso na minha vida, mas era algo que eu já tinha curiosidade antes. Fui pra Buenos Aires estudar ilustração infantil e lá me deparei com artes urbanas incríveis e tive a felicidade de ser iniciada por uma galera massa, que pratica, estuda e vive mesmo a coisa. A arte urbana é forte, instigante e muuito viciante. Ainda estou engatinhando nesse sentido, mas já sei que quero fazer isso pro resto da vida.
Quais são as características estéticas e as conceituais mais presentes na sua arte?
Atualmente, linhas dinâmicas, soltas, cores aguadas e marcantes. Gosto de trabalhar personagens, retratos. Trabalhar a diversidade humana por dentro e por fora através de personagens que crio do nada ou inspiradas em pessoas reais. Gosto de conceitos desconstruídos, de universos paralelos, que coexistem e resistem apesar da realidade irreal que a sociedade insiste em chamar de “normal”.
Sofreu preconceitos? Se sim, com foi?
Sim, já. Quando pré-adolescente, recebi o troféu de menina mais feia da sala. Não me lembro se nessa época tinham outras garotas negras na minha turma, mas acredito que essa foi a razão. Na época eu estava estudando em um colégio considerado “de elite”, e eu vinha de uma realidade diferente da maioria dos meus colegas. Atualmente sofro mais com o machismo de uma forma geral do que com minha cor (embora em muitos casos acontece dos dois tipos de preconceitos estarem atrelados).
As pessoas te vêem diferente ou falam pra você positivamente ou negativamente com essa sua militância?
No meio em que vivo, não. Recebo bastante apoio e elogios. No entanto percebo que a coisa é bem diferente quando piso fora da minha “bolha”.
Qual mensagem você quer deixar para as nossas leitoras negras e artistas?
Não sei, não gostaria de deixar uma mensagem final. Seria uma tentativa frustrada de resumir tudo que disse antes. Tento passar uma mensagem boa em tudo que falo, então acho que a mensagem já está por aí, nas entrelinhas da entrevista :D
Mas vale dizer que é sempre bom ser amável e sincera consigo mesma. O trabalho de todo artista começa dentro de si. A primeira arte que fazemos é dentro da gente. O resto é consequência.
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Email: info@ianah.net
Facebook: fb.com/ianahhmaia
Site: Ianah.net
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