THAINARA FARIA
- Arte: Stephanie Ribeiro
- 7 de mai. de 2015
- 2 min de leitura

Para vocês, um pedacinho de mim.
Desde pequena, sempre morei na periferia de Araraquara. Tenho muitas histórias para contar.
Eu e minha família passávamos por muita necessidade. Minha mãe, divorciada do meu pai, era espancada por seu companheiro quase todos os dias. Decidida a mudar de vida, minha mãe se separou do homem que a agredia. Foi aí que as coisas apertaram ainda mais.
Nós andávamos pelos terrenos baldios atrás de caruru para comer com fubá, ás vezes, íamos até o açougue pedir os retalhos das carnes para comer com arroz.
Um dia, surgiu a oportunidade de a minha mãe fazer um curso gratuito para aprender a fazer trufas. Sem dinheiro para o ônibus (que na época custava R$1,00) atravessávamos oito bairros a pé para chegar até o local do curso.
Lembro-me que íamos e voltávamos cantando e sorrindo por todo o percurso, era muito bom.
Depois disso, a situação começou a melhorar. Minha mãe conseguiu um emprego e meu deu dinheiro para fazer a primeira receita de trufas. Eu as fazia aos domingos e as vendia durante a semana depois da aula lá no bairro onde eu morava.
Nada nunca era fácil. Minha mãe conseguiu matricular a mim e aos meus irmãos na escola SESI. Eu e mais dois garotos éramos os únicos negros numa sala de 40 alunos. Nas duas turmas do 2° ano, havia sete alunos negros no total. Alguns alunos me chamavam de ‘’negrinha’’, diziam que me cabelo era ruim e que eu era horrível. Essa situação me fez alisar meu cabelo durante 4 anos para que eu fosse ‘’aceita’’ e para que eu me sentisse bonita.
Com todas as voltas que o mundo dá e muitos outros episódios tristes e felizes, terminei o fundamental no SESI, fiz o colegial na ETEC aqui de Araraquara e atualmente curso o 3° ano de Direito com bolsa integral pelo Prouni na Uniara.
A negrinha horrível de cabelo ruim hoje é modelo, luta por políticas públicas de inclusão social e realiza projetos sociais periódicos para a periferia de Araraquara.
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