ORNELLA MARIA
- Arte: Ana Maria Sena
- 26 de mar. de 2015
- 1 min de leitura

Sozinha andava pelo jardim
Falava com as plantas
Cumprimentava as flores
Magrela e faceira
É o que me disseram
Tinha uns cinco anos
Me lembro de vagos momentos
Rezas, benzimentos
Tranças nos cabelos
Algumas fotos antigas
E uma tia avó de pele escura
Eu nunca percebi minha cor
Preta, branca, parda?
Só o que tava na certidão
Parda, como meus irmãos
Mas eu não me parecia com eles
Nem com meu pai
Ou minha mãe
A infância e a adolescência foram cruéis
Gorda, feia, fedida
Era o dia a dia
Me escondia junto com os rejeitados
Mas o tempo, senhor de tudo
Colocou no meu caminho mulheres poderosas
Na hora e momento do certo
Uma delas me disse
"Você é negra"
Depois a outra
"Você é livre"
E a outra
"Você é filha de orixá"
Emponderada por elas e muitas outras
Meus olhos se abriram
Descobri o racismo, o machismo, a intolerância
Que fui e ainda sou silenciada
Polida
Negligenciada
Mas agora tenho voz
E ela não se cala
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