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LARISSA SANTIAGO

  • Arte: Ana Maria Sena
  • 17 de mar. de 2015
  • 1 min de leitura

A universidade me deu liberdade, mas em João Pessoa eu me vi negra.

A primeira vez que eu me olhei entre as pessoas e não me vi,

entendi que eu havia deixado uma identidade pra trás.

Foi quando percebi que me olhavam estranho, riam do meu sotaque

e do meu cabelo.

Acho que foi ali que tive consciência da minha negritude que não

estava só na minha cor da pele e no meu cabelo, mas no meu jeito

de falar, na minha dança e no que eu acreditava. Nos ditados

de minha mãe.

A militância foi chegando no dia a dia, na agência de publicidade,

no ônibus e na praia de Tambaú que frequentava sozinha.

Depois achei as iguais, as mulheres negras da minha vida que

estavam longe e perto, de alguma forma.

Conversas, eventos, formação. Blogueiras e escritoras, Charô foi

uma das primeiras.

Relacionamentos, tretas, militância ostensiva e cicloativismo:

foi em Recife que eu percebi que podia ser mais e enfrentei

meus medos, fui forte até adoecer.

Não é fácil achar que você aguenta tudo por ser mulher negra -

não, "você nem é tão negra assim".

Quantas vezes eu ouvi "sempre quis saber o que é que a baiana

tem", sem rodeios nem escrúpulos. Bem carregado de racismo e

hipersexualização.

Quantas as vezes me mandaram pentear o cabelo enquanto andava

na minha bike Audre? Incontáveis!

É claro que houveram dóceis vozes, abraços fraternos, amores

lindos no caminho: as amigas feministas que o digam. Tudo isso

me fez mais enegrecida, mais eu.

Toda afronta faz brotar novos você. E os dias ainda são nossos.


 
 
 

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