LUNA AABENHAIM
- Stephanie Ribeiro
- 1 de mar. de 2015
- 4 min de leitura

A bela Luna Monquelat Aabenhaim não se engane com o sobrenome ela é brasileiríssima; negra e poderosa, é autora de fotografias belas e instigantes, que se tornam mais acirrantes ainda quando descobrimos que trata-se de uma jovem mulher que segundo ela mesma, só tem 19 verões e eu ainda busca descobrir o que é, mas já se sente madura para pesar as situações que vivências, será a entrevistada de hoje por mim.
Você é fotógrafa e tem um trabalho super consistente, empoderador e consciente e é bem jovem, o que te levou a fotografia e a esses posicionamentos no seu trabalho?
Comecei a fotografar ainda quando era pequena, mas nem tinha influência nenhuma, na adolescência eu tentei de tudo no meio artístico. Logo depois de sofrer um abuso fortíssimo, eu perdi o interesse em tudo até que a psicóloga colocou uma câmera na minha mão e ai foi.
Eu recebi muitos "nãos" no Brasil mesmo, por ser negra e mulher, o que me surpreendeu, um campo tão aberto, ser tão fechado. Vim para Madrid com uma mão na frente e outra atrás, tem gente que acha que sou rica, nem sou. Ninguém é rico com fotografia. Aqui, é um país racista e bem, já me esnobaram por fotógrafos brancos então passei a fotografar minorias, até porque me identifico com elas. Tenho um ensaio, que tem de negros a mulheres trans, pouco se vê isso. Tenho ensaios com gays, com drags, com os lgbt em geral. Acho que essa opressão que sofro aqui absorvo como poder e uso em meus ensaios.
Fale um pouco mais de seus projetos que incluem mulheres negras, alias muitos fotógrafos dizem ter dificuldade de encontrar negras para seus projetos, vi pelas suas fotos que há várias minorias ali representadas, como você explica essa desculpa do constante “não tinha uma (inclua uma minoria) que queria fotografar”?
Muitos fotógrafos tem medo (risos). Medo de expor o diferente. As pessoas seguem padrões por medo, sempre foi assim. De ser rejeitado, de ser excluído. Por mais que seja arte, pra muita gente, arte é restrita. Eles não querem fotografar negros, simplesmente por um grande medo da repercussão disso e também é claro, preguiça. Tem muito negro no mundo.
Lu você mora em Madrid, como é morar fora do Brasil, alguns negros que conheço dizem que países de fora tendem a ter um racismo menos tóxico do que o nacional, que é velado e constante, confirma essa sensação ?
Por mais que aqui seja racista é mais pela maioria ser brancas e brancos, e negros terem uma igualdade no campo de classe social. Aqui tem branco e negro pobre e tem negro e branco classe media, negro rico e etc. É menos tóxico pois não é constante, embora tenha seus casos é raro você notar o racismo.
A fotografia te ajudou a se sentir bem novamente pós uma situação traumática, é isso que te fortalece eu imagino, quais são seus anseios enquanto fotógrafa?
Eu quero poder passar que todos nós que fomos destruídos somos capazes de nos reerguer, de nos refazer. Eu me refiz, a quase dois anos atrás, nem de longe eu era essa pessoa que sou agora.
Falamos indiretamente sobre padrões estéticos, me diga então, o que é belo para você?
Belo pra mim é a simplicidade. A possibilidade de uma troca que não precisa de palavras, os traços que fazem alguém quem ela é. Acho que belo pra mim é autoconfiança.
É a busca pelo belo que te faz ter trabalhos de cunho engajados?
Claro! Bem, eu tenho muitos projetos assim, tenho com idosos, com mulheres, com minorias, alguns divertidos, como Eres lo que comes. Por eu achar que fotografia é algo que se expande. Sem limites. Meu projeto fotográfico favorito sempre será o Empodera! Ele tem muito de mim.
Ele tem a intensidade que eu tenho e uso pras coisas. Acho que ele demonstra tudo que eu queria. É um daqueles projetos que você olha e pensa "Eu fiz algo importante, isso precisa ser visto". É orgulho de si mesmo, o que alguns chamariam de narcisismo.
Mas é o que digo, eu acho que um trabalho é bom, quando o fotografo olha e pensa "isso é bom", artistas tem essa coisa de odiarem o que fazem. Mas, eu ando muito feliz com meus projetos. Estou feliz de poder ir para a Etiópia, de ter ido a Nicarágua e dar um pouquinho de felicidade pra aquele povo tão rico e tão pouco conhecido.
O que vai fazer na Etiópia?
É um trabalho de fotografia sobre a cultura negra na Etiópia. Irei passar três semanas, morando lá com uma equipe de 32 pessoas, fazer entrevistas e fotografar todo o cotidiano deles. Eu estou bem feliz por ser um combinado de trabalho voluntário e fotográfico.
Luna para finalizarmos pode deixar um recado para empoderar outras mulheres negras?
Somos todas tão poderosas, somos todas tão reais. E somos tão melhores do que aqueles ignorantes que dizem que nós não podemos. Temos muita história a contar então gritem esta história, pois alguém, ira ouvir.
VEJA AS FOTOS DO TRABALHOS DA LUANA NA NOSSA GALERIA
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